domingo, 29 de janeiro de 2012

O desespero da Lua

O sol me contou em segredo que a lua chorava desesperada, mas não pude ouvir o motivo, porque o vento soprou na hora e levou as palavras do sol. O pássaro chegou apressado e tentou revelar o que o vento escondeu, mas na hora exata em que ia cantar, as águas, agitadas, desceram do céu e o pássaro fugiu. Desnorteada vaguei pela mata tentando entender o desespero da lua e quando as sombras das altas e antigas árvores cobriram-me quase que por completo, a cobra sibilou o princípio do segredo dizendo assim: sssssssssssssaaaaaaaaaaaaauuuuuuuuuuu, mas o resto foi engolido pelo ruído da cachoeira que jogava na mata o excesso que enchera a nascente do rio e a cobra escondeu-se na gruta mais próxima.
Desanimada procurei o local mais doce da beira do rio e sentei-me a contemplar minha própria imagem na suavidade da mãe das águas. As horas passaram sem que eu descobrisse o segredo da dor da lua e sem que entendesse a distorção que havia na minha imagem sob as águas, até que a lua apareceu no céu. Quando já não esperava mais descobrir o motivo de suas lágrimas, sussurrou através da minha imagem: saudades de você.... Surpresa, olhei prá Lua e redescobri sua beleza. Ela olhou prá mim e reconheceu sua filha ausente há tanto tempo. Sorri pra ela e ela sorriu pra mim. Então a dor da lua desapareceu e a alegria voltou a meu coração.
Esperei até o dia seguinte para contar ao sol que a lua não mais desesperava, mas quando ele apontou no céu já sabia e escreveu na terra com seus belos raios: a Lua é feliz de novo. O pássaro cantava sem parar: fe-liz, fe-liz, fe-liz. A cobra rolava na terra de tanto rir e minha imagem no rio, que já voltara ao normal, retornou para dentro de mim, agora cheia de segredos e mistérios. E eu voltei ao meu dia-a-dia. Inteira. Bendita Lua.